14 fevereiro, 2010

Um ano especial

Neste início de Fevereiro aconteceu o fechamento de um ciclo. Um grande amigo meu - um homem inteligente, executivo brilhante, consultor de padrão internacional - soube que alguns projetos importantes, desenvolvidos por ele em 2007 e 2008, foram concluídos e assinados neste início de ano, após um 2009 terrível, ano em que nada de positivo aconteceu no âmbito de seus negócios.

OK, o que há de tão terrível nisso? Muita gente também passou por coisas parecidas... Pois é. Mas o final de 2008 também viu sua vida familiar desmoronar sob o peso da separação conjugal, como resultado de anos fustigados por seu trabalho obsessivo, pelo abuso do álcool, por atitudes prepotentes - e a falta de trabalho na segunda metade de 2008 consumira as suas últimas reservas finaceiras.

O Natal de 2008 foi triste, com uma modesta ceia comprada com dinheiro emprestado. E dali por diante, cada semana tornou-se um suplício, com os credores batendo à porta, a falta de perspectivas, a falta de comida, a saúde abalada.

Em Fevereiro de 2009 uma profunda depressão quase o levou à morte. No dia seguinte, choro e arrependimento em meio a emoções confusas... a menos-valia, a vergonha do fracasso, a falta de fé, a saudade da muher e da filha, o medo da solidão.

Desde aquele Natal infeliz, venho prestando-lhe apoio como posso - e nesse "F evereiro Negro" chorei junto com ele, ao saber do ocorrido, por telefone (ele vive a uns 800 km daqui). Prestei minha solidariedade, reafirmando o compromisso da amizade, do acompanhamento, da esperança.

De lá pra cá, pudemos encontrar-nos um par de vezes, pessoalmente. Mas mantivemos correspondência regular por Skype, por e-mail. Telefonemas de suporte, para troca de informações... e para minhas considerações de amigo sobre os valores a revisar, sobre a análise interior, a aceitação da lei de causa e conseqüência, a reformulação de crenças. Ouvi horas de confidências, de elaborações sobre os fatos da vida, de resoluções intempestivas, de buscas pela fé...

Tive o privilégio, ao longo deste ano, de compartilhar a luta de uma pessoa - que admiro muito - por sua sanidade física, mental e espiritual. Um doloroso, excruciante e torturado processo de auto-conhecimento, de questionamento da vida, de retorno forçado à simplicidade, de enxugamento corporal. Os altos e baixos desse processo deixaram marcas na carne e na alma.

E neste Fevereiro, ao fechar o ciclo de doze meses desde aquele domingo de triste memória, chegam as boas novas, manifestando a luz no fim do túnel, a redenção financeira à vista, a possível retomada de uma vida "normal".

Sei, contudo, que essa "normalidade" nunca mais será como foi. Para ele, o despojamento a que a vida o obrigou por tanto tempo, a esperança alimentada e frustrada tantas vezes, a superação de suas limitações (que lhe deu uma nova medida do seu potencial) e imensa empatia pelos sentimentos alheios, bordada e chuleada na nova relação com suas duas amadas (esposa e filha) serão parâmetros muito claros de uma nova fase da vida.

Para mim, a manifestação diária de lealdade, de compaixão, de apoio franco e incondicional a este amigo tão especial foi um exercício intenso e gratificante. Dizem que "para ter um amigo, seja um"... e acredito nisso. Agradeço ao Universo pela oportunidade que me foi dada, e olho para o futuro com a certeza dessa amizade, consolidada num contexto de resgate pessoal e de elevação moral.