A corrupção está aí, no meio de todos nós. Porém o governo reflete seus governados – nós é que o colocamos onde está. Não adianta apontar o erro dos outros com o dedo sujo...
É no dia-a-dia que exercemos nossas crenças e valores. Ao aceitar favores “estranhos” – aqueles que nos obrigam a fazer vista grossa sobre algo que sabemos errado -, ao usarmos um telefone alheio, gerando custos que seriam nossos, ao procurar um jeitinho com o contador para esconder uma receita e evitar pagar impostos, ao apresentar uma nota de despesa que não ocorreu, ao inventar uma reunião de negócios para disfarçar um encontro particular, etc., estamos sendo parte disso que aí está – e que tanto nos incomoda.
Dizem que a gente se irrita com as coisas que os outros fazem igual que a gente. Se eu me incomodo porque você fala demais, certamente preciso examinar se EU também não falo demais... Dizem também (cinicamente) que “uma negociata é um bom negócio do qual não faço parte”, ou seja, se eu fosse sócio daquilo estaria “numa boa”, me achando muito esperto.
Quem sabe como a gente se comportaria se estivesse do outro lado? Será que o Lula é tão diferente de todos nós?
Na minha modesta opinião, há que se fazer um exame de consciência individual e listar os valores e as crenças que orientam nossas decisões, no dia-a-dia.
Se a verdade é algo importante para mim, preciso decidir que vou evitar a mentira. Qualquer mentira, mesmo a “mentira inocente”, precisa ser contida. E se eu não puder falar a verdade, em determinada ocasião, pelo menos devo ter CONSCIÊNCIA daquilo que estou fazendo, e minimizar o estrago.
Se a honestidade é importante para mim, devo aceitar pagar os preços por aquilo que desejo, porque tudo tem um preço na vida. O preço pode ser em dinheiro, pode ser na forma de um favor retribuído, no tempo investido ou num trabalho específico. Mas meu orgulho deve estar em não usar – indevidamente – o que não é meu, em respeitar o que é do outro como se fosse meu. E se eu cometer um deslize, devo estar CONSCIENTE do que fiz, e me propor a não deixar que aconteça de novo.
Se a perseverança é um valor para mim, devo lutar contra a minha preguiça e fazer o que me propus a fazer, mesmo que isso me custe o conforto daquela hora. Esperar que outra pessoa fizesse a minha tarefa seria me diminuir, aceitar minha fraqueza, jogar no time das “vítimas”, dos dependentes, e perder mais uma chance de crescer e fortalecer minha auto-estima. Se eu falhar, porém, devo ter CONSCIÊNCIA do fato – e devo renovar minha determinação em perseguir o que é certo.
Esse caminho é árduo. Não há soluções fáceis, nem receitas “instantâneas”. O Brasil só vai se consertar começando pela base – que somos todos nós. Quando muitos pautarem suas vidas pessoais pela ética e fizerem o caminho correto – onde o "colher" vem depois do "plantar e cultivar" -, teremos representantes semelhantes e será possível eleger pessoas com visão coletiva, voltada para os problemas do país e com a compaixão necessária para colocar-se em segundo plano, capaz de voltar suas energias para trabalhar em prol dos outros.
Um político, um governante, um estadista deve ser uma pessoa “maior”, desapegada de si e voltada à comunidade, a quem deve servir com empatia e dedicação. Sua vocação, sua missão na vida deve ser viver o bem coletivo - seu bem estar pessoal será reflexo natural de seu bom trabalho, sem precisar tornar-se milionário por isso. O dinheiro público tem dono, sim - e precisa ser respeitado como tal.
Formar pessoas assim e elevá-las aos cargos da coordenação nacional é um processo que deve ser começado já – dentro de nós.
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